Páginas

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A carta


 Caro amigo,

A cada dia que passa, nossas vidas ficam mais difíceis. Antes eram pedras no meio do caminho. Mas agora vejo que o caminho passou a ficar repleto delas. Tão repleto que por diversas vezes não é possível atravessar se não for pisando em cima de cada uma. Por muitas vezes elas nos parecem tão grandes...
Nesses momentos eu vejo você parar e de maneira estática olhar ao redor para ver até onde elas estarão presentes. Muitas vezes o horizonte não parece ser motivo para alegria, pois nele nada se vê a não ser matacões ainda maiores... E então você me pergunta “qual a necessidade de caminhar?”... E por muitas outras vezes, por falta de resposta plausível ou dignamente respeitável... Eu me calo!
O meu silêncio pode soar como uma ausência de razão para caminhada. Afinal, poderia você parar? Claro que poderia... Mas o que a parada traria de benefício? Creio que nada. Uma pedra que não é superada se torna um obstáculo, algo intransponível, na pior das situações uma utopia. Nesse ponto você acabou de criar um muro na sua frente, onde sua capacidade de locomoção ficou por sua vez limitada. Você acabou de por um fim a sua liberdade!
Se essa pedra fosse superada, passaria a ser um degrau.  E como todo degrau, seria responsável por erguer vocês até um nível maior! Em um patamar mais elevado, você passaria a ter uma visão mais ampla e aberta... Evidente que haveria mais pedras, mas se passou por cima de milhares, justamente a próxima vai te impedir de caminhar... Nesse patamar, você voltará a sentir o vento da liberdade, brindando teus lábios com o melhor dos sabores... A superação! Não superaste somente a pedra, mas superaste a si próprio! Superou a pedra maior, aquela que estava dentro de você e bloqueava de pensar na sua capacidade.
Sim amigo, nesse momento eu vou falar para você “Parabéns”! Afinal, se eu dissesse algo antes, você poderia hesitar. Talvez agora me entenda... Mas não fique ai parado, sabe o que é mais doce e suave que a superação? Superar novamente... Então, está vendo aquela pedra ali?  

Um abraço daquela que sempre estará do seu lado,
Esperança


Kaio Galvão

terça-feira, 15 de março de 2011

O sonho


 
Téo é um menino que gosta de sonhar... Afinal de contas ele é um menino, e tem em seu sono o momento onde ele pode ser desde um super-herói até o rei de um grande castelo...

No seu último sonho, Téo não foi rei, nem um grande super-herói, nem um grande artista. Ele foi ele mesmo... Contudo nesse não era mais um menino, ele se via num corpo de adulto como o de seu pai. Ele crescera... E isso jamais seria um problema, se não fosse pelo que havia em sua volta.
Téo ligara a televisão sentava no velho sofá, no qual brincava quando era pequeno com sua coleção de carrinhos! Mas o sonho estava começando, o noticiário mostrava a mesma apresentadora e as notícias... Bem as notícias não eram boas.
O deputado federal que Téo votara, por algum motivo ele sabia qual era, tinha sido contra o aumento do salário mínimo. O contraditório era que o salário do político ainda era muito maior que este. A política não estava bem e a segurança muito menos, moradores de uma comunidade fecharam uma rua devido uma ação mal planejada da polícia, uma criança morreu vitima de uma Bala perdida. Para Téo, perdida, só a criança...
Na outra notícia um filho de um juiz atropelou uma mulher em uma rua na zona sul, ele não foi preso! O pai dele é importante... A mulher foi enviada para um hospital, mas não tinha médicos devido a falta de verbas para a saúde, ela perdeu o bebê... Ele não era importante! Mesmo assim disseram que ela passa bem. Téo ficou assustado, pois não esperava que isso pudesse ocorrer afinal morava no país com uma das maiores cargas tributárias do mundo! Mas também era um dos países com a maior taxa de desigualdade social.
Os problemas não eram apenas dentro do país... O oriente médio estava em guerra, dois países discutiam devido a diferença de crenças, ambas não poderiam coexistir... Bem, o pior era que muitos se diziam querer apaziguar, mas para isso enviavam soldados. Téo não entendia... Guerra pela paz!
Téo viu outras notícias que mostravam diversos problemas, o meio ambiente... A Amazônia registrava o maior índice de desmatamento dos últimos anos. No nordeste a seca assolava com o gado no sertão, no sul a geada foi a mais intensa dos últimos 20 anos...
Téo iria para o trabalho, mas seu filho não iria para escola... Ele estava sem, por falta de professor, ninguém gostaria de ocupar a vaga devido à oferta de salário baixo.
Nesse momento Téo acordou, o menino sentou na cama, olhou para os lados e pensou...
“-Ufa, foi apenas um sonho...”


Kaio Galvão

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A redação



- “Escreva uma história, olhando para uma imagem...” - Essa foi a instrução dada pela professora de redação do nono ano, enquanto caminhava por entre as fileiras na sala de aula. Nas mãos, carregava os envelopes de papel pardo que guardavam as fotos de pessoas desconhecidas em diversas situações.
     Ao chegar próximo a mesa de Joana, a professora abriu o bolo de envelopes como um baralho, para que a menina escolhesse um.  Após recolher um envelope e abri-lo delicadamente, Joana se depara com uma fotografia de uma menina.
Era uma foto preta e branca, onde se via uma menina em lixão. No primeiro momento Joana ficou chocada, logo em seguida o impacto cedeu lugar a reflexão, podia ser ela no lugar da garota da foto.
Joana então começou sua redação, não precisou olhar mais para a garota, quem batizara de Maria. Em seu texto, narrou um pouco da história da menina. Comentou o porquê ela estava no lixão e não na escola. Falou de pessoas que não aparecem na foto. A quem Joana se referiu como culpados.
A redação foi entregue a professora que na aula seguinte solicitou a presença dos pais da menina na escola. Prontamente eles compareceram na semana seguinte preocupados, isso nunca acontecera antes.
- Bom dia, peço desculpas por chamar os senhores aqui... – Foi como iniciou a conversa dos pais com a professora e a psicóloga da escola.
– Mas estou preocupada com a Joana... A redação dela foi a única que terminou assim... – A professora mostrou aos pais como estava a redação, os mesmos leram e ficaram prontamente em silêncio.
    - Eu não sei o porquê ela fez isso... Joana nunca demonstrou tal comportamento. – A mãe de Joana não entendia o final trágico. O pai apenas olhava, queria falar com a filha. Joana então foi chamada.
Esse fato nunca havia ocorrido, Joana ficou assustada no início. O pai prontamente chamara a filha que se sentou a seu lado.
- Filha, essa sua redação... Explica-me o final dela? – O pai perguntou temeroso, mas confiava bastante na filha.
Joana se lembrava bem da redação, a imagem de Maria jamais sairia de sua cabeça. Ela era um silêncio, mas ao mesmo tem era muito forte.
- Pai, simples... Até todos lerem a minha redação e refletirem sobre as crianças que vivem no lixão, com certeza ela já estaria morta... E os culpados por tal situação, provavelmente jamais conhecerão Maria. – Joana se explicou de maneira rápida e deixou todos em silencio. Inclusive seu pai, que durante aqueles poucos segundos, pensou quantas “Marias” morreram enquanto eles, discutiam a razão do triste final da redação.


Kaio Galvão

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Passarinho Amarelo


            Menino João era um menino de cinco anos, do qual não se destacaria das crianças de sua idade. Não que não tivesse nada de especial, mas seu comportamento era comum para sua idade. Gostava de correr, brincar de pique, jogar bola, soltar pipa e jogar bola de gude.
Muitas de suas principais diversões, menino João aprendera com seu avô. Mais conhecido como “Vô Toninho”, das brincadeiras infinitas e do jeito de criança. Muitas vezes mais criança que o próprio Menino João.
Era para a chácara de Vô Toninho que os pais de menino João o levavam uma vez por mês. Isso não era incomodo para o garoto, que adorava correr pelo terreno. Lá João conheceu o famoso passarinho amarelo, que vivia em uma pequena gaiola, com dois poleiros e tamanho mínimo. Mesmo assim ele cantava...
Menino João se perguntava, afinal, por que ele não é livre? Vô Toninho, dizia que o mesmo não sabia voar, nascera em uma gaiola... Jamais aprendera a viver fora de uma. Menino João não se conformava, pois não fazia sentido ter asas e não voar. Nessas horas seu avô ensinava-lhe que muitos seres na vida têm capacidade e ferramenta, porém não são capazes de realizar seus objetivos.
E todas as vezes que Menino João seguia para a chácara, ouvia o cantar do passarinho pela manhã, se perguntava e se ele fosse livre. O que o Menino não esperava, era que em um belo mês de Janeiro, ao chegar na chácara não viria seu amado avô. Ele estava no hospital, seus pais informaram que havia uma massinha dentro da barriga dele, que estava fazendo mal. Menino João nunca fora tolo, sabia que seu avô não comera massinha. Provavelmente estava com algo mais grave.
Uma manhã, o passarinho não cantou. O menino se levantou com o som de telefone antigo, Sua mãe atendera e chorara. A “Vó Zinha” se sentara, seu pai nada falara, o tempo fechara. Menino João então saiu pela porta, atravessou a sala, chegou no quintal e viu o passarinho em silêncio. Nesse momento pegou um banco e abriu a porta da gaiola. O passarinho apenas saltitava, até que num único atravessou a portinhola e conquistara a liberdade.

O pai do menino viu a cena e ressabiado comentou.
– Filho, tenho que conversar com você sobre Vô Toninho...

O menino, parado e olhando vôo do passarinho, respondeu de imediato.
- Eu sei papai, ele estava errado. Só ele não percebeu que podia voar.

Kaio Galvão