- “Escreva uma história, olhando para uma imagem...” - Essa foi a instrução dada pela professora de redação do nono ano, enquanto caminhava por entre as fileiras na sala de aula. Nas mãos, carregava os envelopes de papel pardo que guardavam as fotos de pessoas desconhecidas em diversas situações.
Ao chegar próximo a mesa de Joana, a professora abriu o bolo de envelopes como um baralho, para que a menina escolhesse um. Após recolher um envelope e abri-lo delicadamente, Joana se depara com uma fotografia de uma menina.
Era uma foto preta e branca, onde se via uma menina em lixão. No primeiro momento Joana ficou chocada, logo em seguida o impacto cedeu lugar a reflexão, podia ser ela no lugar da garota da foto.
Joana então começou sua redação, não precisou olhar mais para a garota, quem batizara de Maria. Em seu texto, narrou um pouco da história da menina. Comentou o porquê ela estava no lixão e não na escola. Falou de pessoas que não aparecem na foto. A quem Joana se referiu como culpados.
A redação foi entregue a professora que na aula seguinte solicitou a presença dos pais da menina na escola. Prontamente eles compareceram na semana seguinte preocupados, isso nunca acontecera antes.
- Bom dia, peço desculpas por chamar os senhores aqui... – Foi como iniciou a conversa dos pais com a professora e a psicóloga da escola.
– Mas estou preocupada com a Joana... A redação dela foi a única que terminou assim... – A professora mostrou aos pais como estava a redação, os mesmos leram e ficaram prontamente em silêncio.
- Eu não sei o porquê ela fez isso... Joana nunca demonstrou tal comportamento. – A mãe de Joana não entendia o final trágico. O pai apenas olhava, queria falar com a filha. Joana então foi chamada.
Esse fato nunca havia ocorrido, Joana ficou assustada no início. O pai prontamente chamara a filha que se sentou a seu lado.
- Filha, essa sua redação... Explica-me o final dela? – O pai perguntou temeroso, mas confiava bastante na filha.
Joana se lembrava bem da redação, a imagem de Maria jamais sairia de sua cabeça. Ela era um silêncio, mas ao mesmo tem era muito forte.
- Pai, simples... Até todos lerem a minha redação e refletirem sobre as crianças que vivem no lixão, com certeza ela já estaria morta... E os culpados por tal situação, provavelmente jamais conhecerão Maria. – Joana se explicou de maneira rápida e deixou todos em silencio. Inclusive seu pai, que durante aqueles poucos segundos, pensou quantas “Marias” morreram enquanto eles, discutiam a razão do triste final da redação.
Kaio Galvão