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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A redação



- “Escreva uma história, olhando para uma imagem...” - Essa foi a instrução dada pela professora de redação do nono ano, enquanto caminhava por entre as fileiras na sala de aula. Nas mãos, carregava os envelopes de papel pardo que guardavam as fotos de pessoas desconhecidas em diversas situações.
     Ao chegar próximo a mesa de Joana, a professora abriu o bolo de envelopes como um baralho, para que a menina escolhesse um.  Após recolher um envelope e abri-lo delicadamente, Joana se depara com uma fotografia de uma menina.
Era uma foto preta e branca, onde se via uma menina em lixão. No primeiro momento Joana ficou chocada, logo em seguida o impacto cedeu lugar a reflexão, podia ser ela no lugar da garota da foto.
Joana então começou sua redação, não precisou olhar mais para a garota, quem batizara de Maria. Em seu texto, narrou um pouco da história da menina. Comentou o porquê ela estava no lixão e não na escola. Falou de pessoas que não aparecem na foto. A quem Joana se referiu como culpados.
A redação foi entregue a professora que na aula seguinte solicitou a presença dos pais da menina na escola. Prontamente eles compareceram na semana seguinte preocupados, isso nunca acontecera antes.
- Bom dia, peço desculpas por chamar os senhores aqui... – Foi como iniciou a conversa dos pais com a professora e a psicóloga da escola.
– Mas estou preocupada com a Joana... A redação dela foi a única que terminou assim... – A professora mostrou aos pais como estava a redação, os mesmos leram e ficaram prontamente em silêncio.
    - Eu não sei o porquê ela fez isso... Joana nunca demonstrou tal comportamento. – A mãe de Joana não entendia o final trágico. O pai apenas olhava, queria falar com a filha. Joana então foi chamada.
Esse fato nunca havia ocorrido, Joana ficou assustada no início. O pai prontamente chamara a filha que se sentou a seu lado.
- Filha, essa sua redação... Explica-me o final dela? – O pai perguntou temeroso, mas confiava bastante na filha.
Joana se lembrava bem da redação, a imagem de Maria jamais sairia de sua cabeça. Ela era um silêncio, mas ao mesmo tem era muito forte.
- Pai, simples... Até todos lerem a minha redação e refletirem sobre as crianças que vivem no lixão, com certeza ela já estaria morta... E os culpados por tal situação, provavelmente jamais conhecerão Maria. – Joana se explicou de maneira rápida e deixou todos em silencio. Inclusive seu pai, que durante aqueles poucos segundos, pensou quantas “Marias” morreram enquanto eles, discutiam a razão do triste final da redação.


Kaio Galvão

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Passarinho Amarelo


            Menino João era um menino de cinco anos, do qual não se destacaria das crianças de sua idade. Não que não tivesse nada de especial, mas seu comportamento era comum para sua idade. Gostava de correr, brincar de pique, jogar bola, soltar pipa e jogar bola de gude.
Muitas de suas principais diversões, menino João aprendera com seu avô. Mais conhecido como “Vô Toninho”, das brincadeiras infinitas e do jeito de criança. Muitas vezes mais criança que o próprio Menino João.
Era para a chácara de Vô Toninho que os pais de menino João o levavam uma vez por mês. Isso não era incomodo para o garoto, que adorava correr pelo terreno. Lá João conheceu o famoso passarinho amarelo, que vivia em uma pequena gaiola, com dois poleiros e tamanho mínimo. Mesmo assim ele cantava...
Menino João se perguntava, afinal, por que ele não é livre? Vô Toninho, dizia que o mesmo não sabia voar, nascera em uma gaiola... Jamais aprendera a viver fora de uma. Menino João não se conformava, pois não fazia sentido ter asas e não voar. Nessas horas seu avô ensinava-lhe que muitos seres na vida têm capacidade e ferramenta, porém não são capazes de realizar seus objetivos.
E todas as vezes que Menino João seguia para a chácara, ouvia o cantar do passarinho pela manhã, se perguntava e se ele fosse livre. O que o Menino não esperava, era que em um belo mês de Janeiro, ao chegar na chácara não viria seu amado avô. Ele estava no hospital, seus pais informaram que havia uma massinha dentro da barriga dele, que estava fazendo mal. Menino João nunca fora tolo, sabia que seu avô não comera massinha. Provavelmente estava com algo mais grave.
Uma manhã, o passarinho não cantou. O menino se levantou com o som de telefone antigo, Sua mãe atendera e chorara. A “Vó Zinha” se sentara, seu pai nada falara, o tempo fechara. Menino João então saiu pela porta, atravessou a sala, chegou no quintal e viu o passarinho em silêncio. Nesse momento pegou um banco e abriu a porta da gaiola. O passarinho apenas saltitava, até que num único atravessou a portinhola e conquistara a liberdade.

O pai do menino viu a cena e ressabiado comentou.
– Filho, tenho que conversar com você sobre Vô Toninho...

O menino, parado e olhando vôo do passarinho, respondeu de imediato.
- Eu sei papai, ele estava errado. Só ele não percebeu que podia voar.

Kaio Galvão